Intervista
21 aprile 2007

“Sonho historico “<br>

Intervista di Elisa Byington, Carta Capital - São Paulo, Brasil


O ministro das Relações Exteriores da Itália, Massimo D’Alema, defende a fusão entre socialistas e democrata-cristãos

Roma. Sábado à tarde, o Ministro das Relações Exteriores da Itália Massimo D’Alema sai de casa a pé, rumo à seção “Mazzini” do partido Democratici di Sinistra-DS na qual é inscrito. Em pauta, a criação do “Partido Democrático”, tentativa de transformar o “Ulivo” - aliança eleitoral de centro-esquerda integrada por Democratici di Sinistra, Republicanos e Margherita (partido dos ex-democratas cristãos e liberais progressistas) - em partido visando atenuar os excessivos particularismos do quadro político italiano. Atualmente, a aliança que governa o pais é composta por oito partidos, restando outros quatro na oposição. O projeto aposta em uma nova formação política “capaz de reunir todas as forças reformistas da Itália que não tem necessariamente origem na esquerda” – diz D’Alema, também presidente dos Democratici di Sinistra. O próximo congresso dos DS – provavelmente o ultimo - devera’ dar vida à assembléia constituinte da nova legenda, evento intensamente debatido pelas bases, não raro em tom dramático. Há o grupo contrário que ameaça cisão diante da perda da clara filiação à esquerda e ao socialismo internacional. Do lado mais moderado, alguns católicos mais fervorosos da “Margherita”, temem a proximidade com a tradição laica do socialismo e juram que jamais entrarão na Internacional Socialista.
Desde a queda do muro de Berlim em 1989, os militantes do antigo Partido Comunista Italiano - “o maior partido comunista do ocidente” que em 1984 contava mais de 25% dos votos – vivem com ânsia essa terceira transformação. Inicialmente tornaram-se o Partito Democratico di Sinistra – PDS (1991-98) mas ao retirarem a palavra comunista do titulo perderam parte dos militantes, que preferiu dar vida ao partido “Rifondazione Comunista”. Depois foi a vez da eliminação da foice e do martelo que ainda constavam do símbolo em ‘98, ocasião em que passaram a chamar-se apenas Democratici di Sinistra - DS, atraíram expoentes do velho PSI italiano, aderiram ao Partido do Socialismo Europeu e à Internacional Socialista.
Na verdade, o PCI havia sido sempre um partido comunista sui generis, com herança intelectual importante (Gramsci e Togliatti) e uma classe dirigente inovadora. No final dos anos ‘70 com Enrico Berlinguer defenderam as teses da “compromisso histórico” e do “euro-comunismo”, ideário mais próximo do socialismo democrático, definitivamente distante do PCUS soviético. Após a derrota do comunismo, impôs-se mudança drástica: teve inicio a longa metamorfose acima mencionada, em busca de uma identidade ao passo com o mundo em transformação e capaz de governar o pais. Intervindo no debate em meio a todos os inscritos da seção, D’Alema, com seu carisma e autoridade, defende a necessidade do Partido Democrático como “nova síntese entre forças de inspiração diversa: socialistas, cristãs, ambientalistas, liberais progressistas”, capazes de enfrentar juntas os desafios da globalização e da paz mundial.


Há quem acredite em outras formas de participação mais espontâneas do que partidos como mais adequadas ao mundo moderno.

Continuo a acreditar na necessidade da organização e da atividade dos partidos como veiculo para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. Para quem está comprometido com a difícil obra de governar, ter como referencia um partido vital, robusto, e consciente dos desafios que tem diante de si, é fundamental. Além do que, ele nos dá o senso da batalha que continua; de uma historia que irá adiante. Encontrar aqui tantos dirigentes jovens é sinal de que a paixão política e a força da esquerda no pais não diminuíram. Nosso partido não esta’ amedrontado, nem acuado, nem separado da sociedade civil como gostariam alguns. Há quem ponha os partidos de um lado – o mundo do mal – e uma mítica sociedade civil do outro. Como se o cidadão que dedica voluntariamente parte do seu tempo ao compromisso político, civil e social fosse um cidadão de serie B. Fazer política como atividade coletiva dentro de uma dimensão dialética é uma coisa; de outro modo fica-se no âmbito do testemunho de posições pessoais.


Porque razão acabar com os DS e fundar o Partido Democrático?

A necessidade do Partido Democrático nasce da consciência de nossos limites. Precisamos de uma grande força política que interprete a renovação da sociedade italiana e seja capaz de lançar uma ponte entre esta e o governo do pais. Este é o papel dos partidos. O fim do comunismo e a transformação do mundo alteraram os partidos, as identidades, os valores e as escolhas de vida em todos os cantos do planeta. Não é uma exclusividade italiana.
A aliança do Ulivo nos permitiu vencer as eleições. No Senado, onde nos apresentamos separados, a vitória foi mais frágil. A formação do Partido Democrático é a transformação definitiva de uma aliança eleitoral em partido político.


Há quem veja a fusão do partido com outras forças, ligada somente às razoes da governabilidade; às preocupações um pouco cínicas com a chamada “governança”.

Nossos objetivos não se limitam a um programa de governo. Não há reforma que possa se resumir em boas leis quando essa não mobiliza milhões de pessoas e as motiva a dar algo para o próprio pais. Visamos uma ação social e política que restitua impulso à sociedade que durante muito tempo ficou prisioneira de egoísmos e medos. A maior expressão disso foi a atuação da direita italiana com sua cultura do medo: medo da globalização; medo dos chineses; medo da imigração...
Acho que não devemos olhar com temor o desafio do novo partido. A idéia de unir forças que juntas nas eleições alcançaram mais de 30% dos votos em um pais onde basta ter 1,5% para ser determinante no governo.... não é pouca coisa. Mas não queremos reduzir a constituinte do partido democrático à fusão DS e Margherita. Queremos abrir um processo que saiba atrair outras culturas, amplos setores da sociedade civil e das novas gerações.


Abandonar a identificação do partido como “de esquerda” ou “socialista” é vivido por muitos como intolerável perda de identidade e patrimônio de valores.

A mim acontece de encontrar velhos companheiros que pertenciam à juventude comunista deste ou aquele pais. Na diáspora daquele movimento há tanta gente que continuou a fazer política sob siglas e formulas as mais diversas. A esquerda continuou a viver sob mil formas diferentes. Enquanto houver uma sociedade que produz injustiça, guerra, violência, havera’ quem luta contra. Penso que a distinção entre direita e esquerda seja hoje mais evidente do que nunca. Isto é, entre quem pensa que o mundo global se possa governar por meio da força e da prepotência e quem se bate por um mundo baseado no direito; entre quem acredita que os direitos humanos e a liberdade das pessoas não sejam bens negociáveis; entre os que lutam contra a fome e a exclusão para dar esperança; entre quem acredita que a lógica do lucro possa desconsiderar o equilíbrio ambiental. Mas acredito que este vasto campo de forças hoje não esteja circunscrito à identidade socialista. Socialismo é uma das inspirações presentes entre as forças de progresso de que somos parte. Até mesmo a palavra “esquerda” não englobaria tudo. Não sei qual o nome, qual a bandeira. Mas me parece evidente a necessidade de uma nova síntese.


Mas há a questão do partido se situar fora ou dentro da Internacional Socialista, não?

Somos parte da historia do socialismo europeu. Ainda que uma parte bastante original cuja chegada à idéia do socialismo é relativamente recente. Por sua vez, o socialismo europeu é parte de um vasto campo de forças. A Itália possuía um grande partido católico e um grande partido comunista. Durante dez anos acreditei que fosse possível a criação de um grande partido social-democrata. Os fatos não nos deram razão. Veja bem: do ponto de vista das forças de progresso existentes no mundo, a experiência italiana do “Ulivo” foi vista como tentativa corajosa de construir uma nova síntese entre inspirações diversas: socialistas, cristãs, ambientalistas, liberais progressistas. Não há líder do socialismo europeu que considere a transformação do Ulivo em Partido Democrático, demonstração de que estamos para abandonar a esquerda. Pelo contrario, olham a experiência italiana como algo que pode reforçar, alargar, inovar o campo do reformismo na Europa. Sobretudo as forças mais iluminadas, se dão conta de seus limites e sentem necessidade de ir além. E’ preciso não ter medo das palavras e olhar a substancia. Ou pensamos ser possível não levar em consideração os democratas americanos que se bateram contra a guerra no Iraque muito mais do que certos socialistas europeus? Não vemos que a relação com eles é aspecto essencial da construção de um novo campo internacional?


Não é uma contradição o fato de que os DS apóiem na França a candidata socialista enquanto os aliados da Margherita apóiam o candidato centrista?

Nos apoiamos Ségolène Royal. Lógico. Mas acredito que ela deva medir-se com o eleitorado de François Bayrou porque este será fundamental para derrotar a nova direita de Nicolas Sarkozy. Seria um fato grave se mais uma vez os socialistas na França não superassem o primeiro turno, como aconteceu com Jospin.


Há o grupo que ameaça cisão diante da descaracterização do partido como partido de esquerda.

Não entendo quem diz “vou embora” antes do projeto ser realizado. Aonde vão? Com qual projeto? Antes é preciso construir o novo partido e depois verificar se o resultado não corresponde às próprias expectativas. Daí então, tomar uma decisão. O projeto do partido democrático não esta’ à direita de Tony Blair, por exemplo, nem à direita de tantos outros que estão na Internacional Socialista. Gostaria de que houvesse uma forte componente de esquerda no novo partido. Mas isso vai depender de nos. Insisto no fato de que em um processo deste tipo é necessário o peso dos valores e das idéias da esquerda. Venho da tradição do partido que se chamava Comunista. O peso do nome era tão forte que na pratica, algumas vezes, o partido podia se permitir ser conservador ou moderado. Tenho consciência de que no dia em que passasse a ser militante de um partido que se chama somente “democrático”, o que certamente é menos pesado, me sentiria pessoalmente no dever de manifestar com maior coerência o meu ser de esquerda. Mesmo porque não haveria mais a proteção do nome.


Não faltam declarações de guerra, dizendo que quem quer mudar nome e projeto do partido são estes a romper e a perder direito à sede dos DS e às seções...

Um partido não é um símbolo e um nome. E’ uma comunidade de pessoas que se reuniram em torno de determinadas idéias. O partido caminha na direção em que se movem estas pessoas. Já ouvi essa argumentação em relação à sede e ao símbolo na época em que deixamos de ser comunistas. E esta se demonstrou equivocada.


Há quem considere boa a idéia do novo partido mas objete que o contexto político é negativo. O consenso restrito de que hoje gozam os partidos os deixaria expostos ao risco de desagregação.

Talvez tenhamos subestimado os desgastes causados pela direita que fez com que se acumulassem injustiças e expectativas. Encontramos uma situação desastrada deixada por uma direita irresponsável. O orçamento e previsão de gastos estava baseado em obras publicas deliberadas mas não financiadas; não havia um tostão para investimento nas ferrovias e estradas. Tivemos que sanar uma situação à beira da bancarrota fraudulenta do Estado, o que nos obrigou a uma lei de Orçamento extremamente dura. Ainda assim, era visível o compromisso em diminuir desigualdades e o empenho em relação aos mais fracos.Talvez não tenhamos sabido fazer o pais participar das escolhas necessárias para por o pais em movimento, voltar a criar riqueza e sustentar o mundo das pequenas e medias empresas que nestes anos souberam enfrentar o desafio da competição internacional na Índia, na China. O governo tem o dever de acompanhar o processo e ajudar esta força produtiva a colher as novas oportunidades. Para isso é necessária uma grande força política que possa ser interprete e sirva de garantia para as transformações da sociedade italiana.

stampa